segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Dor muscular

Provavelmente todos nós em algum momento da vida já fizemos algum exercício que, devido à sedentariedade ou à intensidade do exercício, mais ou menos de 24 à 56 horas depois somos submetidos à uma enorme dor muscular.

O texto abaixo irá explicar melhor sobre as dores durante e após os exercícios físicos, como surgem e como fazer para evitá-las. O texto pertence a Allan Rabelo e foi adaptado por mim, Douglas Leão. Espero que seja bastante esclarecedor!


Por que sentimos essa dor?

A dor é um mecanismo de proteção ativado diante da possibilidade de ocorrência, ou após o aparecimento, de lesões, e faz com que o indivíduo reaja para remover o estímulo de dor. Os receptores da dor são terminações nervosas livres suscetíveis a estímulos mecânicos, térmicos e químicos.

Uma dor temporária (dor aguda) pode persistir por várias horas imediatamente após um exercício extraordinário, enquanto uma dor residual (dor crônica), ou dor muscular de início tardio (DMIT), pode aparecer a seguir e durar por 2 a 4 dias.

Possíveis causas da dor

A causa exata da dor muscular é de início desconhecida. No entanto, foram levantadas seis teorias diferentes:

- Teoria da Ruptura Tecidual. Essa teoria propõe que o dano tecidual, como rupturas minúsculas de fibras musculares, ou dano de seus componentes contráteis, pode explicar a dor muscular;

- Teoria do Espasmo. Nesta teoria, são sugeridos três estágios de ação:

(a) o exercício produz isquemia dentro dos músculos ativos;

(b) a isquemia resulta acúmulo de uma "substância dolorosa" desconhecida que estimula as terminações nervosas do músculo responsáveis pela percepção da dor;

(c) a dor desencadeia um espasmo muscular reflexo que causa mais isquemia, e o ciclo todo se repete;

- Teoria do Tecido Conjuntivo. Essa teoria sugere que os tecidos conjuntivos, incluindo os tendões, são lesados durante a contração, causando assim dor muscular. Convém lembrar que, durante as contrações excêntricas, o músculo alonga-se sob tensão, distendendo assim os elementos do tecido conjuntivo associados tanto aos tendões quanto às fibras musculares;

- Alterações na pressão osmótica que causam retenção de líquidos nos tecidos circundantes;

- Alteração no mecanismo celular para a regulação do cálcio; ou seja, as alterações no pH, nos níveis dos fosfatos de alta energia, no equilíbrio iônico ou na temperatura observadas com um exercício incomum podem produzir grandes alterações na estrutura e função do retículo sarcoplasmático. Isso resulta em uma depressão no ritmo de captação de Ca2+ assim como em sua velocidade de liberação, produzindo um aumento na concentração de Ca2+ livre quando penetra rapidamente no citosol das fibras lesadas. Essa sobrecarga de Ca2+ intracelular pode contribuir para o processo autolítico, que degrada as estruturas com e sem potencial contrátil dentro do músculo lesado. Isso é responsável por uma redução na capacidade de produzir força e por uma eventual dor muscular;

- Uma combinação dos fatores acima citados.

A causa exata da dor muscular é desconhecida, porém o grau de desconforto depende em grande parte da intensidade e duração do esforço e do tipo de exercício realizado. Não é a força muscular absoluta propriamente dita, mas sim a magnitude da sobrecarga ativa imposta a uma fibra muscular que desencadeia o dano muscular e a dor resultante (MCARDLE et al., 1998).

Dor durante os exercícios (Dor Aguda)

Este tipo de dor muscular aguda que, como o nome indica, ocorre durante e imediatamente após o período de exercício, é considerado como associado à falta de um fluxo sanguíneo suficiente (isquemia) para os músculos ativos.

Segundo Foss (2000), com base em estudos, chegou-se às seguintes conclusões acerca da dor muscular aguda:

- A dor muscular durante as contrações ocorre quando a tensão gerada é suficientemente intensa para gerar oclusão do fluxo sanguíneo para os músculos ativos (isquemia).

- Por causa da isquemia, os produtos da atividade metabólica, tipo ácido lático e potássio, não podem ser removidos e, dessa forma, acumulam-se até o ponto de estimularem os receptores dolorosos localizados nos músculos.

- A dor persiste até que seja reduzida a intensidade da contração ou que esta cesse totalmente - restaurando o fluxo sanguíneo e fazendo com que os produtos metabólicos de desgaste possam ser removidos.

A queimação percebida durante a execução do exercício, principalmente com repetições elevadas, é relacionada à falta de oxigênio e conseqüente queda de pH, pois o acúmulo de íons de hidrogênio provoca acidose e estimula os receptores de dor, os quais sinalizam para a interrupção do exercício antes que ocorram lesões no tecido muscular. Mas este mecanismo é transitório e não responde pela dor muscular tardia, pois a acidose é rapidamente revertida por um sistema de tamponamento que trabalha para manter o pH dentro dos limites fisiológicos.

A dor aguda, embora possa importunar, não constitui um grande problema, pois é de curta duração e desaparece quando se suspende o exercício.

Dor muscular tardia (Dor Crônica)

As experiências destinadas a induzir a dor muscular tardia constataram que o grau de “dor muscular de início tardio” está relacionado ao tipo de contração muscular realizada. Em estudo utilizando contrações isotônicas, concêntricas e excêntricas, e isométricas, constatou-se que a dor muscular era mais pronunciada após as contrações excêntricas e menos intensa após as contrações isotônicas. A dor observada após as contrações isométricas era apenas ligeiramente maior que após as contrações isotônicas, porém, ainda eram consideravelmente menor àquela observada após as contrações excêntricas. Além disso, em todos os casos, a dor era demorada, podendo atingir um período de 24 a 48 horas após o exercício.

O treinamento com pesos pode induzir lesões nos tecidos musculares e conjuntivos. Diante uma lesão tecidual, inicia-se o processo inflamatório caracterizado pela vasodilatação local com aumento do fluxo sangüíneo na região, e aumento da permeabilidade capilar com vazamento de líquido para o espaço intersticial. Diversos fatores envolvidos no processo inflamatório, como a bradicinina e prostaglandinas, estimulam os receptores de dor, provocando o incômodo verificado em decorrência das lesões, o que ainda poderá ser visto nos dias seguintes a uma sessão de treinamento intensa. Deste modo vemos que a dor pode ser iniciada pela lesão, mas sua causa são os mecanismos inflamatórios; desta forma não há relação temporal entre a sensação de dor e os danos teciduais (CLARKSON et al., 1992).

Lembrando que a dor (aguda ou crônica) não é necessariamente o sinal de um trabalho eficiente.

Acido Lático causa dor muscular?

Muito já se falou sobre as causas das dores musculares, e muitas pessoas dizem que o vilão da história é a ácido láctico, mas já foi comprovado cientificamente que o lactato não é o causador da dor muscular.

Segundo Cailliet (1979), o acúmulo de metabolitos irritantes é ainda considerado a causa da dor muscular, mas o metabolito especifico ainda não foi identificado. A idéia previamente considerada, de que o ácido láctico e a ácido pirúvico eram o fator, já foi refutada porque exercícios isquêmicos em pacientes com ausência hereditária de fosforilase muscular (síndrome de McArdle) desenvolvem dor grave, mais do que a média, e o ácido lático não pode ser produzido nestes indivíduos.

Segundo McArdle et al. (1998), alguns estudos revelaram que a dor muscular era considerada maior quando o exercício envolvia uma solicitação alta e repetida durante o alongamento ativo nas contrações excêntricas que quando envolvia contrações concêntricas e isométricas. Esse efeito não se correlacionava com o acúmulo de lactato, pois a corrida de alta intensidade num plano horizontal (contrações concêntricas) não produzia qualquer dor residual, apesar das elevações significativas no lactato sanguíneo. A corrida num plano em declive (contrações excêntricas), por outro lado, causava um grau de moderado a intenso de dor muscular de inicio tardio, sem qualquer elevação de lactato durante o exercício. A corrida em declive produzia aumentos correspondentes nos níveis séricos das enzimas musculares específicas, creatina-cinase (CK) e mioglobina (Mb), que são ambas marcadores usados comumente para lesão muscular - (existe também uma maior mobilização de leucócitos e neutrófilos, os quais estão associados com o processo de inflamação aguda).

Como podemos prevenir a dor

Para prevenir a dor muscular, propõe-se:

- Alongar, pois o alongamento (estiramento) parece ajudar não apenas na prevenção da dor, mas permite também o seu alívio, quando presente. Entretanto, os exercícios de alongamento devem ser realizados sem violência ou solavancos, pois isso poderia lesar ainda mais os tecidos conjuntivos.

- Uma progressão gradual na intensidade do exercício em geral ajuda a reduzir a possibilidade de dor muscular excessiva. Essa progressão, em um programa de treinamento com pesos, implica a utilização de pesos relativamente leves no início do programa, aumentando gradativamente as cargas à medida que se conseguem aumentos na força.

Em caso de dor do dia seguinte, a principal medida a ser tomada durante o treinamento é reduzir a carga ou a intensidade do exercício nas próximas sessões de treino, entretanto, se a dor for muito incômoda e limitante, a interrupção dos treinos se faz necessária para permitir ao organismo uma recuperação ótima da região lesionada. Caso a dor seja insuportável, o mais indicado é consultar um médico para realizar exames a cerca da dor, e se necessário indicar a utilização de um antiinflamatório, ou outro medicamento.

Conclusão

Esses resultados confirmam a conveniência de iniciar um programa de treinamento com um exercício ligeiro (leve e com uma única sessão), para se proteger contra a dor muscular que, quase certamente, acompanhará uma sessão inicial de exercícios pesados que contenha um componente excêntrico. Entretanto, até mesmo um exercício anterior de menor intensidade dos músculos específicos não proporciona proteção completa contra a dor subseqüente observada com um exercício mais intenso (MCARDLE, 1998).

O estudo da dor que se origina no sistema neuro-músculo-esquelético não está ainda esclarecido. Nenhuma teoria é universalmente aceita e nenhum conceito confirma qualquer entidade patológica dolorosa específica. A síndrome dolorosa músculo-esquelética, embora prevalente, não está mais explicada em todas as suas ramificações do que a dor e a incapacidade de qualquer outro sistema de órgãos.

Douglas A. S. Leão

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